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19 de Abril de 2024
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    Das falas e das lutas: URSAL, sua linda!

    Publicado por Justificando
    há 6 anos

    Foto de capa: Resistência Escapista URSALinda, 2018, por Renata Nóbrega.

    Por Renata Nóbrega.

    Recife, 15 de agosto de 2018.

    Hoje estive atenta ao rumo das palavras, mas elas não me deram cabimento algum.

    Inserida numa rotina feminista feminina há pouco mais de cinco meses, percebo que as palavras e as ideias andam conspirando com os temas do cotidiano.

    A pressa do tempo segue sem freios e a velha política anda vestida de todo tipo de modinha e, ainda assim, suas candidaturas, como de praxe, seguem nuas.

    A rotina segue na gira das permanências do tempo e sigo desfrutando as “pequenas ternuras” de que falam amigxs sororxs e escapistas. Planejamento de encontros, abraços, beijos, compartilhamento de discos e livros, reencontros, nascimentos e renascimentos: ações várias para dar sentido ao fluxo caótico do mundo. Haja café e amor!

    No emaranhado da vida, uma intervenção da comicidade trágica: a União das Repúblicas Socialistas da América Latina – URSAL. Pareceu-me que as palavras trazidas pelo inesperado picadeiro movimentariam meus pensamentos e garantiriam um texto livre para nossa diversão de riso nervoso à Buñuel.

    Na sigla URSAL encontrei expressões para as quais a língua portuguesa reservou gênero feminino: união, repúblicas socialistas e América Latina.

    Mas quem seríamos a América Latina? Em sendo, já seríamos unidas ou haveria necessidade de forjarmos essa união? Nossa construção comportaria uma configuração republicana e, além disso, de caráter socialista?

    Em se tratando da América, se considerada latina, a fala do invasor é o que suleia a definição, na medida em que se consideram latinas as regiões (países) onde são faladas as línguas românicas, ou seja, derivadas do latim.

    Esse apego às palavras me complica o fluxo. Américo fora o invasor a nos denominar “Novo Mundo” e o primeiro mapa que se desenhou da sua invasão, a partir do “Velho Mundo”, apelidou de América uma terra que antes de Américo já abrigava povos vários e denominações bastantes.

    Sendo latina, então, estou numa América de Américo: mais ao Império do que à República. Afinal, nada mais moderno do que a ordem e o progresso dos Impérios trajando a modinha de Rés-públicas.

    O Império Romano e, por conseguinte, o domínio eurocêntrico, levou o latim do Lácio ao ‘resto’ do mundo, especialmente ao mundo ocidental, e o devir histórico oficial cuidou de fomentar o projeto de nação, para o qual era indispensável, dentre outros, uma língua oficial a cada limite territorial imposto nesse “Novo Mundo”. Os mapas desenharam linhas que desrespeitaram as populações originárias e suas falas. Em lugar das línguas taína, comanche, apache, maia, quichua, guarani e tantas outras, as línguas dos cara-pálida em todas as ditas Américas, latinas ou não: inglês, holandês, francês, espanhol e português.

    No início foi a mera divisão para posse e ocupação imperialista das colônias. Depois, escutavam-se os gritos de independência a partir de muitas lutas que ainda hoje seguem cotidianas na redefinição de linhas territoriais.

    Todavia, no caso da população originária, esses embates intra e inter américas seguem silenciados e, mesmo quando ganham voz, são travados mais em “juridiquês” do que em qualquer outra língua. E tudo, antes e depois, permanece a custo de muito sangue e encontra, no mais das vezes, as ditas Repúblicas como resultantes de uma coalizão política e jurídico-burguesa.

    Socialistas? Há quem diga que sim, a quem diga que não e sempre tem quem diga nem que sim nem que não, muito pelo contrário. Mas palavras vazias, caso encham os olhos, dificilmente resistem a uma lente macro.

    E assim, seguimos na sororidade nossa de cada dia, escapando e resistindo.

    As palavras, pelo visto, deram o ar da graça.

    Com elas, encerro a digressão com o aproveitamento da URSAL para inventar mais uma união da escrita: a URSALinda – União das Redes Sororas das Américas Lindinhas!

    Escreveu a professora Maíra Zapater no artigo “Os problemas de um feminismo para consumo imediato”.

    Sendo assim, de um jeito ou de outro, ao aproximar as lentes, com ou sem filtros, penso que sempre valem as palavras, as críticas e as lutas.

    URSAL, sua linda… nossa URSALinda!

    Renata Nóbrega é membra da AJD (Associação Juízes para a Democracia) e juíza do trabalho no TRT da 6ª Região. Foi agente de polícia, delegada e serventuária da justiça federal. Curiosa e precisando de poucas horas de sono para viver, vai deixar para dormir quando morrer. É casada com uma mulher que adora dormir. Mãe de Maria Beatriz, a Biatômica. Mestra em História Social pela Universidade Federal Rural de Pernambuco.

    Leia mais:

    # feminismo:

    #1 Por que o feminismo é tão necessário?

    #2 Por que o feminismo é tão importante no contexto atual brasileiro?

    #3 O que é Sororidade e por que precisamos falar sobre?

    #4 Um pouco da história de conquistas dos direitos das mulheres e do feminismo

    #5 Violência contra mulheres, violência doméstica e violência de gênero: qual a diferença?

    #6 Pelo fim da cultura do estupro

    #7 Do que estamos falando quando queremos legalizar o aborto?

    #8 Tirem o racismo do feminismo: mulheres negras vão passar

    #9 Transfeminismo: a pauta que nos ensina ir além do binarismo homem e mulher

    #10 Meu cérebro, minhas ideias

    #11 Homens, vocês têm medo de quê?

    #12 Os problemas de um feminismo para consumo imediato

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