Funk Furacão 2000 em Copacabana foi ato político na mais pura definição aristotélica
A convocação da Furacão 2000 para um Baile Funk, na Avenida Atlântica, dia 17 de abril de 2016, foi atendida pelas comunidades mais pobres do Rio de Janeiro. A nação mangueirense esteve lá, assim como incontáveis moradores da Rocinha, Vidigal, Pavão e Pavãozinho, Chapéu-Mangueira e tantos outros vindos de muitos morros da periferia. Foi um Baile Funk como Copacabana nunca viu, animado por diversos MCs e DJs que conhecem os gostos da população mais pobre.
Foi um ato político na mais pura definição aristotélica. As comunidades das favelas do Rio de Janeiro organizadamente dançavam e entoavam palavras de ordem reivindicando o bem comum, condenando a pobreza, a desigualdade, a injustiça e a violência. Manifestavam-se contra o processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, entendido por todos como a deturpação de um instituto legal previsto na Constituição Brasileira.
Não foi, porém, uma manifestação político-partidária. Os milhares de participantes não estavam ali em defesa de um determinado partido político ou de uma frente partidária. A luta era pelo bem comum, e contra o impeachment da Presidente por meio de uma construção espúria que criminaliza ações legais já praticadas anteriormente por outros. A iminência de um golpe à jovem e frágil democracia brasileira é que unia a todos, ainda que tivessem diferentes partidos, raças, credos, idades, escolaridade e distintas manifestações de sexualidade.
Só os mais conservadores podem acusar o Baile do Funk de Copacabana como uma manifestação político-partidária em favor do Partido dos Trabalhadores. São estes conservadores os mesmos que querem reprimir e demonizar as atividades políticas ordinárias, quotidianas, inerentes à existência do cidadão comum. Esquecem-se que confundir a explosão de alegria política animada pela Furacão 2000 com prática político-partidária é uma confusão canhestra alimentada pela desinformação, preconceito e reacionarismo.
Aqueles que se deixam confundir querem uma cidadania asséptica, presa aos códigos que impõem, que separa o direito da justiça. Tentam impor-se legalmente sobre o direito de manifestação política dos cidadãos para hegemonizar suas concepções de mundo. Denegam ao homus politicus o seu direito inalienável de ser consciente, valorizar e participar moralmente das decisões de seu ser e de sua comunidade.
Péricles, ainda que tenha vivido em Atenas no longínquo século V a.C., tinha mais atualidade que os homens conservadores do século XXI. Para ele, era um inútil à sociedade e à República todos os cidadãos que se mantinham distantes, estranhos e indiferentes à política.
Zacarias Gama é Professor associado da UERJ
0 Comentários
Faça um comentário construtivo para esse documento.